Tecnofeudalismo existe?
Tecnofeudalismo
Recentemente, ao folhear a edição de janeiro da revista MIT Technology Review de 2023, um termo me chamou a atenção: “tecnofeudalismo”. A princípio, soou como um neologismo bobo, uma simples fusão de palavras. No entanto, lendo toda a edição da revista, compreendi que, mais do que o conceito em si, é preocupante o que ele reflete sobre os tempos em que vivemos.
Uma das matérias aborda o domínio quase omnipresente das gigantes da tecnologia no cenário global. Nomes como Google, Meta (anteriormente conhecido como Facebook), Amazon e Apple não são apenas empresas; tornaram-se instituições poderosas que controlam a internet. Em nossa atual economia digital, ter uma presença forte e ativa em suas plataformas não é apenas benéfico, mas muitas vezes essencial para a sobrevivência e sucesso de um negócio.
Aqui, a comparação com o feudalismo se torna pertinente. Assim como os senhores feudais que controlavam vastas extensões de terra e concediam a camponeses o “privilégio” de trabalhar nelas em troca de tributos, essas corporações tecnológicas modernas detêm a infraestrutura digital do nosso tempo. E assim como muitos camponeses estavam atados às suas terras, os consumidores de hoje frequentemente se sentem presos em ecossistemas digitais específicos, dependentes das ferramentas, serviços e plataformas que estas empresas oferecem.
Muito além do mundo digital
No entanto, o tecnofeudalismo não é meramente uma questão de mercado ou de escolha do consumidor. O que é verdadeiramente alarmante é a magnitude do poder que estas empresas agora possuem. Este poder não se restringe à poder econômico e a ditar tendências de mercado, estende-se à capacidade de influenciar políticas, moldar discursos públicos e, em alguns casos, até mesmo determinar os resultados eleitorais. Os algoritmos, frequentemente invisíveis ao público em geral, têm o poder de filtrar, destacar e moldar as informações que consumimos. E, como as eleições de 2016 nos EUA e 2018 no Brasil ilustram, as consequências podem ser profundamente impactantes e perigosas.
Vale ressaltar, contudo, que a ideia de concentração de poder dos monopólios não é uma volta ao feudalismo, é a essência do capitalismo. Lenin, já no início do século XX, falava sobre a tendência inerente do capitalismo de levar à concentração de capital e ao surgimento de monopólios. O que é novo, no entanto, é a escala e a esfera em que isso agora ocorre - o domínio digital.
Regulamentação
No congresso hoje, temos iniciativas como o Projeto de Lei das Fake News, que visa trazer algum grau de responsabilidade e transparência ao mundo digital. Não estudei todos os seus pormenores, mas é evidente que a era do “faroeste” digital não pode continuar. A regulamentação, quando moldada pensando nos interesses do povo, pode ser a chave para garantir que a revolução digital, que trouxe tantos benefícios, não se torne uma ameaça à própria sociedade. Em última análise, a luta é para que o mundo digital seja um espaço de igualdade, inovação, acesso ao conhecimento de forma democrática e não um reino dominado por uma elite tecnológica.